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O art. 52, parágrafo único, do CPC, é constitucional? O que significa analogia perversa nesse contexto? É constitucional a regra do CPC que determina que o pagamento de RPV será feito em “banco oficial”?

De acordo com o CPC:

Art. 46.  § 5º A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.

Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal.

Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado.

O STF julgou a constitucionalidade desse artigo na ADI 5492/DF.

Segundo o Supremo, tais disposição desconsideram a prerrogativa constitucional de auto organização dos entes federativos. 

Inclusive, destaca o julgado que “os tribunais também possuem funções administrativas – como aquelas ligadas ao pagamento de precatórios judiciais – que não podem, sem base constitucional expressa, ser exercidas por autoridades de outros entes federados. Tal possibilidade produziria grave interferência na gestão e no orçamento públicos, além de risco ao direito dos credores à não preterição.” 

Obs: uma palavra-chave importante nesse caso – “analogia perversa”

“Na ADI nº 5.492, o Governador do Rio de Janeiro alegou, quanto ao art. 52, parágrafo único, que a intenção do legislador teria sido “aproximar o tratamento dos demais entes políticos àquele conferido pelo constituinte à União, segundo os §§ 1º e 2º do art. 109 da CF/88”. O autor afirma que o dispositivo, ao assim dispor: (i) teria realizado uma “analogia perversa”, pois fez com que a Fazenda Pública Estadual, sem órgão de representação judicial estruturado nacionalmente, tivesse de se defender em juízo em todas as demais unidades federativas do país, o que violaria o direito ao contraditório efetivo”

Desse modo, o STF conferiu interpretação conforme à interpretação de tais dispositivos:

(i) atribuir interpretação conforme à Constituição ao art. 46, § 5º, do CPC, para restringir sua aplicação aos limites do território de cada ente subnacional ou ao local de ocorrência do fato gerador; (ii) conferir interpretação conforme também ao art. 52, parágrafo único, do CPC, para restringir a competência do foro de domicílio do autor às comarcas inseridas nos limites territoriais do estado-membro ou do Distrito Federal que figure como réu;

Outros dispositivos que tiveram julgada a constitucionalidade:

Art. 535, § 3º, II – por ordem do juiz, dirigida à autoridade na pessoa de quem o ente público foi citado para o processo, o pagamento de obrigação de pequeno valor será realizado no prazo de 2 (dois) meses contado da entrega da requisição, mediante depósito na agência de banco oficial mais próxima da residência do exequente.

Art. 840. Serão preferencialmente depositados:

I – as quantias em dinheiro, os papéis de crédito e as pedras e os metais preciosos, no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal ou em banco do qual o Estado ou o Distrito Federal possua mais da metade do capital social integralizado, ou, na falta desses estabelecimentos, em qualquer instituição de crédito designada pelo juiz;

De acordo com o STF:

A Constituição de 1988 não determina a obrigatoriedade do depósito em banco público dos valores referidos nos arts. 840, inciso I, e 535, § 3º, inciso II, do CPC/2015, os quais não correspondem a “disponibilidades de caixa” (art. 164, § 3º, da CF/88). Os depósitos judiciais não são recursos públicos, não estão à disposição do Estado, sendo recursos pertencentes aos jurisdicionados. (…) A obrigatoriedade de depósitos judiciais e de pagamento de obrigações de pequeno valor em bancos públicos cerceia a autonomia dos entes federados e configura ofensa aos princípios da eficiência administrativa, da livre concorrência e da livre iniciativa.  

Assim, entendeu o STF que: 

declarar a inconstitucionalidade da expressão “de banco oficial” constante do art. 535, § 3º, inciso II, do CPC/2015 e conferir interpretação conforme à Constituição ao dispositivo para que se entenda que a “agência” nele referida pode ser de instituição financeira pública ou privada;

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